Brandon Ingram não é o jogador mais midiático do elenco do Lakers em 2019. Também não é o segundo. Pasmem, não é o terceiro. Fama não é a melhor amiga do pacato ala do Lakers. Mas, quando perguntados sobre quem tem o maior potencial deles, os fãs raramente gaguejam: Ingram é o homem. Com um corpo esticado e envergadura sublime, espaçamento no ataque e versatilidade na defesa, todos esperam de Ingram uma superestrela. Estando certos ou não, é certo que o jovem terá a melhor oportunidade da carreira este ano.
Por mais que a evolução de um atleta, principalmente no basquete, é uma conta inexata, o comum é ver jogadores tendo a primeira explosão no terceiro ano. E o exemplo está nas lendas: Michael Jordan e Kevin Durant lideraram a NBA em pontos por jogo pela primeira vez em seus terceiros anos; LeBron James passou da marca dos 30 pontos e Kobe Bryant obteve a titularidade nas terceiras temporadas; por fim, Magic Johnson foi o líder em BPM pela primeira vez e Larry Bird passou dos 50% em aproveitamento no ano 3. Sim, não foram os melhores anos deles, mas foi a afirmação de que realmente não eram qualquer um. Dito isso, Ingram terá um cenário propício para melhorar. Mas deixarei o porquê mais para a frente. Antes, precisamos entender aonde o jovem se destaca e decepciona, por que isto ocorre, e em quais aspectos ele pode melhorar. Com isso, resolvi fazer uma análise completa da carreira do jogador – mais especificamente, a sua segunda temporada –, para identificar seus pontos fortes e fracos (no estilo Choque de Cultura, mas sem a qualidade deles). Apertem os cintos. ATAQUE Que Brandon Ingram evoluiu na tábua ofensiva, todos sabem. Ora, o jogador basicamente dobrou a sua média de pontos e aumentou a eficiência em todas as medições encontradas. Sim, piorar o seu ano de novato era complicado, mas dadas as circunstâncias, não decepcionou. Entretanto, alguns detalhes poderiam elevar o ano ainda mais, caso percebidos. O objetivo deste texto é justamente apontar e esmiuçá-los, um por um, e mostrar por que aconteceram e por que deveriam deixar de acontecer. Sem mais delongas: Antes, precisamos saber como Ingram realmente se portou. E como disse, não é intenção perder tempo. Este site mostra exatamente como o atleta se comportou. Aqui está:
Aproximadamente 53% das jogadas de meia-quadra do jovem foram gastadas em Pick and Rolls e Isolations. O problema é que Ingram foi bastante ineficiente em ambas as duas. Em ISO’s, registrou um grotesco PPP de 0.78, melhor que apenas um terço da Liga; em Pick and Rolls, seu PPP de 0.79 o fez melhor que só 45.2% dos jogadores. E aqui o erro não é de Ingram: a comissão técnica do Lakers deveria ter percebido a ineficiência dele como armador, e, pasmem, tê-lo feito jogar como um ala. Afinal, é isso o que ele é, né?
Por fim, observe o tweet abaixo e perceba a aberração que foi Ingram nos quesitos, e o quão bom já é no resto. É inadmissível o péssimo uso, que atrapalha o crescimento tanto do jovem quanto da equipe.
E qual foi o impacto do mal-uso de Brandon na temporada do Lakers? Não há como saber precisamente quantas vitórias o Lakers deixou de ter por causa disso, mas os números não são amigáveis com ele. O Lakers foi 2.9 pontos por 100 posses PIOR ofensivamente com Ingram em quadra, e mesmo quando equalizamos companheiros, adversários, minutos e sorte a coisa ainda fica desagradável. Reunindo todos os resultados em estatísticas de impacto –note, apenas na tábua ofensiva—, os resultados foram esses:
Longe de serem bons, tais dados foram maquiados pelo crescimento em pontos por jogo do jovem, que, infelizmente, ainda é o que as pessoas procuram como medição de qualidade. Apesar de chocantes, esta decepção é explicada e entendida pelo contexto: o Lakers era uma bagunça e Ingram, por incrível que pareça, só tem 21 anos.
“Mas e se utilizado da maneira correta, o que aconteceria?” É difícil prever com precisão, mas seria nítido uma melhora na eficiência e no impacto dele na tábua ofensiva. Aquele mesmo site tem uma ferramenta que propõe um prognóstico da tal mudança, e os resultados seriam animadores:
Entretanto, o erro não é apenas da comissão técnica. Brandon poderia ser mais eficiente se acertasse os lances livres e evitasse mid-ranges, trocando-os por bolas de três pontos. Apesar de ter 47.0% de aproveitamento, mais de 86% dos seus arremessos foram de dois pontos, um sacrilégio para a NBA atual. Na verdade, Ingram diminuiu seus arremessos de perímetro em comparação com o seu ano de novato, mesmo chutando 4.2 bolas por jogo a mais, em média. Recapitulando: um sacrilégio. Para efeito de comparação, esses 86% de arremessos de dois é maior que a porcentagem de DeMar DeRozan, e, pasmem, Joel Embiid (ênfase no Joel e no Embiid). Ainda assim, seria mais aceitável se seus arremessos concentrassem-se perto do aro, o que, a despeito do pré-conceito geral, são os mais eficientes do jogo. Não há nada mais vantajoso no basquete que uma bandeja ou uma enterrada, e é isso que os times devem procurar primeiramente. O problema é que 48.5% dos arremessos de dois pontos de Brandon foram FORA do garrafão. Mesmo assim, este número ainda seria plausível caso Ingram fosse uma aberração como Kevin Durant, o que, ao menos da última vez que vi, ainda não é. Mesmo assim, estes arremessos de média distância ainda seriam engolidos se Ingram os convertesse em uma média parecida com a de Michael Jordan e Kevin Durant. E, como você já deve ter adivinhado, não aconteceu. Dos 221 arremessos tentados, apenas 91 encontraram o aro. Um aproveitamento de 41.2%, que, apesar de não ser ruim, seria tão eficiente quanto trocar estes arremessos todos por bolas de três com 27.4% de aproveitamento. É óbvio que é irreal viver apenas de bolas de três e bandejas. Não é isso que proponho. Mas quando 65.7% dos seus Jump-Shots são de meia-distância e você mal passa dos 40%, há um bom problema aí. Abaixo, a especificação de todos os arremessos que tentaste. Clique aqui caso não consiga enxergar.
E, para ser franco, é difícil explicar tamanha relutância na bola de três. Dos 487 arremessos que tentou profissionalmente, contando o College, Ingram acertou 36.1%. E esse bom número ainda pode aumentar, visto o ponto fora da curva que foi sua temporada de novato. Retirando-a, vemos uma média de 40.3%. Para os preguiçosos, seria o mesmo que 60.5% em Mid-Ranges.
Mas calma, nem tudo é tristeza. É aqui que entra a parte interessante. Essas 1100 palavras lhe provaram que o jovem é péssimo em Picks e ISO’s e tem grande relutância nas bolas de três, certo? A esperança é injetada quando vemos que LeBron James chegou. E James é justamente conhecido por viver de Pick and Rolls e um contra um e tornar alguns jogadores em grandes arremessadores do perímetro. Não havia encaixe melhor que esse para Ingram. James vem para simplesmente retirar o peso nas costas do garoto de fazer o que não sabe e focar no que já é fora de série. Em CPOE, que mede quantos pontos um jogador pontuou a mais ou a menos que um atleta na exata média da Liga se tentasse os mesmos arremessos, Ingram e James registraram resultados opostos. O CPOE de Brandon em Pick and Rolls foi de -16.5. Ou seja: se ele mantivesse a média da NBA em PPP em Picks, teria de 16 e 17 pontos a mais na temporada. Entendeu? O de James, porém, foi de incríveis +104.0. Em Isolation, respectivamente, tivemos -17.7 e +58.6. Traduzindo: se trocássemos LeBron James por um jogador mediano, o Cavaliers faria cerca de 162 pontos a menos via Picks e ISO’s. Agora ficou fácil, né? Já o Lakers teria 34 pontos a mais se o mesmo jogador mediano estivesse no lugar de Ingram. Com tudo isso, chegamos ao fim: Ingram foi utilizado de maneira errada e perpetuou hábitos questionáveis. Com LeBron, direta ou indiretamente, isto mudará. Seria uma surpresa tremenda se Ingram não evoluísse tremendamente na tábua ofensiva esse ano. Está aqui uma de minhas apostas para MIP. DEFESA Prometo que serei mais breve defensivamente, até porque, além de ter menos estatísticas em mãos, ninguém é pago para defender, como diz Jabari Parker. E os, resultados, assim como os ofensivos, são razoáveis, mas com potencial para melhora. Ainda assim, diria que Ingram tem um passo à frente defensivamente, muito por causa de sua envergadura. Não há limites para a sua evolução. Indo direto à ação, o Lakers foi MELHOR com Ingram em quadra na defesa. Mas antes de entrarmos no impacto, vejamos sua defesa individual: Ingram cedeu 0.4 ponto a menos que a média da NBA cederia defendendo as mesmas posses, número respeitável para um segundo-anista. Somando o ano inteiro, o Lakers sofreu 23 pontos a menos simplesmente por ter Brandon Ingram; não é algo que espanta o leitor, mas antes 23 a menos que a mais. Mas o quanto isto impactou o Lakers? É notória a evolução defensiva, ainda mais vendo os números. Entretanto, para falar a real, número nenhum é necessário: quem o acompanhou no último ano percebeu tranquilamente o quão melhor Ingram se portou. Sim, ainda apresenta problemas relacionados à atenção, mas nada que não o impeça de ser um bom defensor. Nos números, aliás, estes são os resultados:
E eu sei que provavelmente você esperava por mais, mas veja bem: ele tem apenas 21 anos, era péssimo um ano atrás e jogou em uma bagunça tática, uma diarreia de erros e más usos. Ainda tem muito potencial para ser polido.
E isso é visto quando retiramos Ingram da equação defensiva. Isso, retiramos. Com Ingram, DRTG (ajustado por sorte) de 108.3; sem ele, 109.1:
Sim, não são melhoras que irão nos fazer correr pelado em um racha na Estrada do Catonho em Jacarepaguá, mas mostram potencial de excelência. Só de ter saído do fundo do poço para a claridade seria motivo de alegria; quando lembrados de que tem apenas 21, dão esperança. Não há como saber se a evolução continuará, mas se continuar...
Por fim, classificaria o Ingram como um defensor acima da média, mesmo em uma bagunça; estrutura física para dominância e marcação de todas as posições, exceto a de pivô; versatilidade importantíssima para o basquete de hoje e falta de atenção como calcanhar de Aquiles. Lembra-se que Walton o fez defender os armadores justamente para prestar atenção na bola e não prejudicar a defesa. Repito: uma de minhas apostas para MIP. CONSIDERAÇÕES FINAIS 1900 palavras depois, o veredito: ainda falta muito, mas Brandon Ingram é uma possível estrela. No ataque, uma melhor utilização e uma escolha mais adequada dos arremessos deve fazê-lo crescer bastante; na defesa, mais atenção e a continuação da melhora pode torna-lo um defensor respeitável. Apesar de ser surrado por críticos e endeusado por fãs, Ingram ainda é só um moleque de 21 anos. Tratem-no como um. Para Ingram, a chance de realmente explodir é agora: com LeBron James, todos os seus defeitos serão possuídos por ele e todas as suas virtudes serão explorados. Deixar para a outra temporada vai de desencontro ao que é pretendido pela diretoria. O céu é o limite para você, garoto. Voe até lá.
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