Quando LeBron chegou, recordo-me de dizer, em outras palavras, que a sua contratação daria certo mesmo se desse errado. O paradoxo parece bobagem, mas é a mais pura verdade: o impacto de sua chegada, mesmo que não vençamos absolutamente nada, é insubstituível. Claro, ainda sonho com dinastias inacabáveis sobre seu comando, mas é mais como um segundo plano. O legado que James deixará na história da franquia é o ponto forte de sua vinda. Estamos diante do futuro maior ala-pivô do Lakers em todos os tempos, e ele nem ala-pivô de origem é.
Engana-se também quem acha que James é um empurrão na busca do Lakers de ser a maior franquia de todos. Essa disputa acabou faz tempo: hoje, o Lakers briga com ele mesmo, tentando aumentar sua grandeza de qualquer forma imaginável. O céu agora é o nosso limite, e nosso ar vai ficando rarefeito. Mas não desvirtuemos do assunto principal. Vou direto ao assunto: o que LeBron precisa fazer para se garantir no quinteto titular da história da franquia? O que significa passar Wilt Chamberlain? E Jordan? Afinal, dá para alcançar Kareem Abdul-Jabbar? Antes de tudo, ainda que você seja um saudosista torcedor, desde 1900 e bolinha, não há importância se você odeia James e acha que nunca chegará ao nível histórico de Baylor, Worthy, Gasol ou quem quer que seja seu PF no quinteto. As narrativas engolirão tudo e LeBron entrará nesse quinteto por bem ou por mal, mesmo que ele não venha a merecer. O debate aqui nem é se ele entrará ou não, mas quem dará lugar a ele. E é aqui que tudo se complica, pois todos têm o seu próprio quinteto. Com isso, irei no mais comum: Magic, Kobe, Worthy, Baylor e Kareem. Baylor, além de ser o menos importante historicamente para nós (e ainda assim era um gênio), está na posição que James ocuparia e nem é ala-pivô de origem; ocupa o lugar por puro preconceito da massa a Pau Gasol. É Elgin quem irá para o banco nessa constelação angelina. E nem entro na questão de ser justo ou não; não tenho interesse nenhum de entrar, aliás. A questão é que LeBron James é um fenômeno midiático, um furacão de narrativas que com toda a certeza abocanhará o espaço de alguém nesse quinteto. Eu não defendo nada. Wilt Chamberlain e Michael Jordan O clamor por escrever qualquer coisa sensacionalista com certeza tornou o marco algo de uma natureza inexplicável, mas parando para pensar: algo, na sua visão sobre James, mudou depois do jogo de quarta? Provavelmente, não. E é normal: ninguém liga para isso. Chamberlain era apenas um obstáculo no sonho de LeBron. Por mais que soe ranzinza dizer, nada mudou. Ou você comemorou loucamente quando Kobe fez o mesmo? Quiçá nem se lembra do jogo. E quando Durant passá-lo os fãs estarão mirando o outro jogador. Vocês sabem quem. Michael Jordan. Passá-lo, aí sim, seria marcante para James. Por mais que não sacramente coisa nenhuma, ultrapassar o Deus no quesito que ele mais dominava é impressionante para qualquer um. Mantendo médias parecidas, LeBron precisaria de cerca de 30 jogos para chegar ao TOP4 em pontuação. Lá, todos terão jogado no Lakers, o que é mais uma pitada da grandeza da franquia. Claro, há ao asterisco em Karl Malone, mas não importa. E as comparações com Chamberlain também são pertinentes pois, assim como James, Wilt também jogou pouquíssimo em LA. Foram 5 temporadas, e uma com lesão grave. Quase o que veremos com LeBron, se nada o impedir. Além disso, LeBron vem num nível muito maior que Chamberlain. Ainda dá para chegar em Kareem? A pergunta que todos querem que respondemos é, hoje, sim. Isso, sim. Contando que James encerrará a carreira quando seu contrato com o Lakers terminar e que lesões não assolem seu terço final no basquete, e ainda que jogue cerca de 75 jogos em cada uma das quatro temporadas aqui, a lenda precisará de pouco mais de 24 pontos por partida para superar Karl Malone e Kareem, algo totalmente viável. James só não passou de 24 pontos em sua temporada de calouro, lá em 2004. Ainda assim, não é tão fácil quanto pensa. James terá 37 anos em sua última temporada, e só dois atletas nesta idade conseguiram passar de 23 pontos por jogo: Karl Malone e Kareem Abdul-Jabbar. Será preciso que James continue neste nível mostrado para que tenha lenha para queimar quando o Tempo bata em sua porta. A questão sobre James é o quanto ele estará disposto a “sujar” sua carreira para chegar a Kareem. Jabbar jogou até os 41, com médias de 10 pontos por jogo. Será que James fará o mesmo? Eu duvido bastante. LeBron deve querer se aposentar ainda sendo o LeBron. Mas aí só o futuro irá dizer.
Comentários
Pediu, mandou. Depois de todos os jogos da pré-temporada, alguns números e muita quebração de cabeça, a rotação ideal do Lakers finalmente saiu. Tem algumas polêmicas, algumas surpresas e algumas casualidades. Mas é só a opinião de um blogueiro, não a verdade absoluta (termo pleonástico) que Luke Walton usará nesta temporada. Com isso, dividirei os tópicos por quartos, falando especificamente de cada um e de jogadores diversos que talvez a maioria achem ter minutos regulados demais. E é sempre bom lembrar que a gente parte do pressuposto de que todos os jogos serão competitivos. Claro, se estivermos vencendo um adversário por 30 pontos no terceiro quarto, a rotação do último torna-se irreal. Sem mais delongas: 1° QUARTO O meu Lakers ideal começaria com Lonzo, Caldwell-Pope, Ingram, LeBron e McGee. Aqui, muitos escolheriam o Josh Hart no lugar de KCP, mas a primeiro momento deixaria o jovem no banco. Acredito sim que tenha totais condições de roubar a titularidade de KCP, mas veja bem: ele já joga mais minutos que Kentavious mesmo vindo do banco. E muito treinador gosta de usar seu quinteto titular por 10 minutos ou mais no primeiro quarto. Respeito, mas discordo. Tirando o LeBron, uma aberração, qualquer situação em que um atleta jogue mais de 8 minutos é prejudicial. Como McGee tem problemas respiratórios, sai antes. 2° QUARTO Aqui, o trio esperado por todos finalmente dá as caras: Rondo, Lonzo e LeBron tem 6 minutos juntos. Por que não mais? Explico: tanto LeBron quanto Rondo precisam da bola para produzir, e Lonzo, querendo ou não, também irá usá-la. Por enquanto, seis minutos são ideais. Se der muito certo, aumenta-se. E outra: esse período do segundo quarto é a única certeza de que esses três jogarão contra os reservas da outra equipe, o que pode nos fazer abrir vantagem importante e ir para o intervalo vencendo. A previsão de Net Rating desse quinteto é essa: Um adendo: as projeções dão conta de que LeBron será pior defensivamente que foi ano passado (o que discordo: ano passado foi um ponto fora da curva) e Lonzo Ball ainda será um negativo no ataque, o que também discordo. Ainda assim, no pior dos casos é um +2.7 contra equipes titulares, não reservas. Outras contestações interessantes: Josh Hart jogaria 9 minutos e Lance Stephenson nem apareceria em quadra (o que acho ideal, mas irreal). Também, Lonzo e Ingram seriam os únicos titulares que terminariam o primeiro tempo jogando. Como adiantamos a volta de vários para jogarem com Rondo, a conta chega. 3° QUARTO O terceiro quarto seria quase uma repetição do primeiro, não fosse os reservas. Aqui, Ingram, com muito desgosto de minha parte, teria seus únicos minutos como armador da equipe. Para falar a verdade, não queria que jogassem nem por um segundo, mas como Walton insistiu bastante nisto no último ano, achei inevitável. Aqui, deixarei as projeções do quinteto titular (que poderia ter deixado antes): como disse, a estatística prevê uma queda defensiva de James e Ball ainda negativo no ataque, o que duvido. Ainda assim, o resultado é ótimo: É também no terceiro quarto que Kuzma joga seus 4 minutos como ala. Também não gosto dessa opção, e digo o porquê: de ala, Kuzma perde o seu diferencial sobre os alas-pivô: a agilidade. Respeito quem prefere, mas discordo. 4° QUARTO No último quarto, o destaque fica para o Small-Ball do Lakers, com LeBron de pivô e KCP e Hart juntos. Aqui, muitos também optariam por Kuzma, mas fiquei com Hart e KCP pela defesa de perímetro. E você irá se surpreender negativamente com o Net Rating desse quinteto, mas calma: a projeção é contra equipes titulares, que usarão de seus pivôs tradicionais. No fim de partidas, as principais equipes usarão seus alas ou alas-pivô na 5 para ganharem agilidade (pasmém, o Rockets usa o pequeno PJ Tucker (!!) de pivô). Fim de jogo, vitória do Lakers e sem delongas, vamos às considerações finais: eu sei, 18 minutos parece pouco para Kyle Kuzma, e realmente é, mas os titulares nas posições que ele disputa são os principais jogadores da equipe. Eu quebrei a cabeça para deixá-lo por 25 minutos em quadra, mas qualquer outra combinação resultaria em, ou ele, ou Ingram na 2.
Eu sei, Lance Stephenson é engraçado, é vida loka, é da quebrada, mas ele não é bom. Ele foi TOP10 dos piores jogadores em todas as estatísticas de impacto e é frequentemente citado como um dos piores jogadores de rotação da NBA. Por fim, temos um time que, por mais que não vá brigar por muita coisa, pode ao menos ter uma temporada competitiva, algo completamente diferente do que foi visto nos últimos 5 anos. Enfim, o Lakers entra em quadra pra vencer, não para cumprir tabela. Vamos ver até aonde conseguiremos sair vitoriosos. Confesso que a ficha ainda não caiu. Sim, essa tecla já foi batida milhares de vezes e dessa vez eu prometo: o foco desse texto não é LeBron, apesar de ser impossível falar do Lakers atual sem citá-lo. A verdade, no fundo mesmo, todos já sabem, mas boa parte dos torcedores de outras franquias não querem aceitar. O Lakers de hoje é MUITO mais que LeBron James.
Já vou ressaltando que não estou desprezando LeBron, muito pelo contrário, seria um pecado menosprezar ou apequenar um talento desse calibre, mas chegou a hora de olhar para o Lakers além da lenda. Ao decorrer deste texto, irei expor alguns motivos, interessantíssimos por sinal, que devem ser observados e analisados nesta temporada, que não passam, pelo menos diretamente, por LeBron James. Luke Walton: O técnico do Lakers, tão criticado por nós e que, confesso, me fez queimar a língua, é uma das principais análises que quero fazer ao longo desta temporada. A evolução de Luke Walton nas últimas temporadas vai muito além de um record com 35 vitórias (sem contar as várias partidas que escaparam por conta da inexperiência do time). A maneira como utilizou os pontos fortes de alguns jogadores e principalmente melhorou, a ainda falha, defesa do Lakers, merece muito destaque. Com Lonzo e LeBron, podemos potencializar ainda mais nossa defesa, que ainda merece muitos cuidados. Acho válido o lembrete de que Lance e Rondo não são ótimos defensores como alguns gostam de levantar e ambos terão consideráveis minutos nesta season. No ataque, torço para ter mais versatilidade com o que tem em mãos. Em algum ponto da temporada, destacamos que Luke não tinha um desenho de jogo definido, faltando até mesmo playbook em alguns momentos. Ao mesmo tempo, notamos belíssimas jogadas desenhadas e que se repetiram durante o ano. Logo após o anúncio da contratação de LeBron James, um texto na ESPN Americana nos mostrou o quão entusiasmado e empolgado Walton está em compartilhar as ideias com King. Não podemos negar que o elenco está muito mais encorpado, estou animado com o que Luke Walton pode extrair dele e por mais que não pareça, confio em seu trabalho. Brandon Ingram: Espero que este tópico não soe como um “Boom or Bust”, mas como já dito em vários textos deste humilde portal: Brandon Ingram tem tudo para ter, NOVAMENTE, a maior evolução e melhor temporada em sua carreira. Tentando deixar de lado o clubismo, Ingram tem tudo para ser uma grande estrela da liga. Porte físico e recursos. Está sendo moldado e confio muito na carreira do menino. Quero ver arremessando mais e principalmente escolhendo melhor de onde esses arremessos serão feitos. Ao que tange seu físico, acredito que você não pode esperar de Ingram um corpo bombado e malhado, mas sim, um jogador que saiba aproveitar as inúmeras maneiras e vantagens que esta envergadura assustadora proporciona. Ainda, peço paciência para a torcida. É um garoto, mas com um futuro brilhante pela frente, que não merece ser escarrado e abandonado por erros completamente entendíveis e cotidianos de um jovem. Precisamos saber reconhecer o tamanho da joia que temos dentro de casa, basta sabermos lapidá-la da melhor maneira. Ingram não é um jogador comum e é mais um fator que faz desse peculiar Lakers, ainda mais que uma grande estrela. Lonzo Ball Lonzo é um futuro DPOY. Acredite quem quiser. Este rapaz defende muito e muito bem. Ao contrário do que muita gente diz, não considero que sua temporada de calouro foi ruim ou decepcionante. Foi dentro do imaginável. E como o que se imagina em toda segunda temporada de um calouro extremamente promissor, espera-se a melhora. Lonzo é um baita defensor, mas pecou principalmente em alguns fundamentos do ataque, como seu tão comentado arremesso. Ainda, sofreu com algumas lesões e passou por uma cirurgia neste verão. Recentemente, recebemos notícias de que ele trabalhou muito o seu corpo e fez alguns (necessários) ajustes no arremesso. Com um QI de basquete diferenciado e um jogo excelente sem a bola, Lonzo dá (contando com a esperada melhora) uma fluidez e dinâmica ainda maior para este time. Ainda, seu backup será Rajon Rondo, um armador polêmico, mas com experiência. Pode ser um desafogo (e espero que não mais que isso) para um time que tinha Ennis no elenco. Com LeBron, Kuzma e Ingram tomando um protagonismo maior que o de Lonzo na equipe, espero que os comentários negativos e desnecessários do pai impactem menos no jogo do garoto, fazendo com que jogue mais solto e sem um piano nas costas. Ninguém nega que Lonzo aspira à grandeza, tornando-se mais um ponto interessante a se analisar nessa temporada que se aproxima. Torço para que o tempo que perdeu por conta da cirurgia não tenha comprometido seu desenvolvimento na offseason. Diretoria É o ponto mais complicado do nosso texto. Particularmente, não confiava (e ainda não confio totalmente) em nossa diretoria. Já expus em nossos textos os motivos, mas alguns pontos merecem ser destacados. Temos o melhor jogador do planeta e ainda mantivemos boa parte dos jovens jogadores. Imaginava que de fato o Lakers conseguiria um time competitivo, mas por um preço altíssimo, pago com sacrifício de jovens promessas. Ponto positivo para a diretoria. Finalmente podemos pensar um pouco maior nesta temporada e consequentemente é possível indagar-se sobre a postura da diretoria quanto a isso. Terão paciência com Walton se o time não engrenar logo no início? Cobrarão de jogadores jovens e em pleno desenvolvimento um rendimento excepcional? Bancarão um projeto e um sistema de franquia mesmo com pressão externa, e talvez até interna? É utópico imaginar que não enfrentaremos turbulências. Todos os times passam. Desta vez temos um elenco encorpado que brigará pelos playoffs. Como a diretoria vai reagir a cada um dessas pedras que podem surgir no caminho? Veremos. Um time campeão começa na cadeira do GM, se guiarmos o mastro para a direção certa (não nos decepcione Maginka!), é questão de tempo para brigarmos pelo título. Luke, Ingram, Lonzo e a diretoria. O Lakers é muito mais que “o time do LeBron”. No fundo todos sabem disso. Agora é com você, preste atenção nestes outros pontos e, com certeza, ficará muito mais interessante acompanhar o Lakers. |