No tão badalado Draft de 2014, um jogador intrigante e interessante despontava como um dos principais prospectos da classe: Julius Randle. Antes de quebrar o pé, Randle era cotado como uma escolha de TOP 5. Infelizmente (ou felizmente), tal acontecimento o fez cair até a sétima escolha, sendo selecionado, como todos sabem, pelo Lakers. Hoje, em seu derradeiro ano de contrato, Randle ainda tenta se estabilizar na liga. Todavia, isso só vai acontecer quando deixar de jogar no século passado.
Desde os seus primeiros jogos em Kentucky, analistas temiam o inevitável: Randle não é um ala-pivô do século XXI. Seu estilo “Bully-Ball” e sua ineptidão em espaçar a quadra não se ajustam à NBA atual e simplesmente travam a naturalidade do ataque. Poucos são os times que não se beneficiam da “Positionless NBA”, e o Lakers é um deles. Justamente por conta de Randle. Para ser importante no futuro da franquia, Julius precisa urgentemente de ampliar seu repertório, ou será apenas mais um. É verdade que Randle evoluiu significativamente de sua segunda temporada, a primeira onde conseguiu jogar regularmente, para a terceira. Seu aproveitamento nos chutes no garrafão saltou de 57% para ótimos 65%. Já suas bandejas viram um acréscimo de 9% para chegar à casa dos 59%. Contudo, os “Hook Shots”, eternizados por Alcindor, só foram aplicados por Randle 16 vezes em toda a sua carreira. Em suma, Julius já é um bom finalizador perto do garrafão. A raiz do problema está em seu jogo no perímetro. Sessenta e três. Esse é o número de bolas de três tentadas por Julius em toda a temporada passada. Um sórdido aproveitamento de 27%. Bem pouco para quem quer ser alguém na liga. Aprimorar-se o suficiente em apenas um ano será trabalhoso, mas um cara conseguiu: justo seu companheiro de garrafão. Brook Lopez viu seus chutes do perímetro aumentarem estarrecedores 2700% em uma temporada. E Lopez está longe de ser um menino. Ao menos, Randle terá alguém a se espelhar nessa caminhada, e ele sempre estará por perto. Por fim, outro infortúnio assola sua permanência na liga: o próprio planejamento em Los Angeles. Os dois principais alvos do Lakers na próxima Agência Livre, Paul George e LeBron James, chegariam para jogar precisamente na posição de Randle. Originalmente, ambos são da posição de Ingram. Supondo, porém, que Brandon continue no time titular e o Lakers siga a corrente da NBA de diminuir a estatura dos times, Randle seria a ovelha negra escolhida. Lamentavelmente, sobre isso Julius não pode fazer mais que rezar. Explodir em seu último ano de contrato é algo primordial para Julius Randle ser um jogador de nome na Liga. Não só por sua continuação em Los Angeles, mas na NBA. Por sorte, o estilo de jogo em transição que o Lakers deve preparar e um armador com mentalidade “Pass-First” o beneficiarão vigorosamente. Entretanto, tornar-se um Stretch Four ainda é fundamental em sua jornada. Em síntese: se Randle almeja um contrato valoroso e longevo no próximo mês de Junho, a hora de detonar é agora.
Comentários
Muito se fala que os jogadores escolhidos pelo Lakers nas primeiras posições do Draft são Busts. Julius Randle, Brandon Ingram e Lonzo Ball tiveram, e ainda tem, um fator a mais que todos os outros novatos na liga nunca tiveram ou vão ter: completar o vazio deixado pela aposentadoria de Kobe Bryant.
Após os fracassos nos playoffs de 2012 (último com Kobe, Lakers derrotado pelo OKC) e 2013 (onde caímos para o Spurs), a facilidade que o Lakers tinha de atrair agente livres simplesmente sumiu, seja por falta de planejamento ou incompetência da diretoria anterior. Depois de tudo isso, toda a fé dos torcedores foi depositada nos novatos vindos do Draft. Para somar com tudo isso, Kobe decidiu se aposentar e a carência por um ídolo ficou estampada no rosto de toda nação purple and gold. Randle quebrou a perna no primeiro jogo da carreira, Russell foi trocado, Ingram possui um processo de evolução mais lento. A lacuna deixada por Kobe atrapalha o desenvolvimento dos garotos? Sinceramente, não. Kobe faz parte do seleto hall de jogadores , habitado também, por Jordan, James e outras lendas que integrarão ou já integram o Hall da Fama do Basquete. Ou seja. Kobe é insubstituível. Nenhum dos garotos será Kobe. E a lacuna deixada é tão grande, mas tão grande, que mesmo se todos eles vierem a ser All-Stars, ainda faltará algo. As comparações com o Black Mamba podem atrapalhar se exageradas, ou feitas descontextualizadas, como no caso de D’Angelo Russell, onde comentaristas pegavam stats de Kobe e D-Lo em suas duas primeiras temporadas, exigindo desenvolvimento semelhante. O que não se pode negar é que, de fato, existe um peso a mais em cada um desses meninos. A imprensa em Los Angeles é perigosa, carente. Carente também de um ídolo é a torcida. Unindo tudo isso, os novatos sempre jogam com essa responsabilidade. O Lakers é gigantesco, e precisa de um ídolo nas mesmas proporções. O que os garotos precisam fazer é usar toda essa responsabilidade como motivação e saciar a sede da torcida em ter um futuro promissor para se apegar. Vocês repararam que eu não citei o nome de Lonzo Ball durante o texto? Provavelmente sim. Falando por mim, já fui contra a escolha desse garoto. Mas após a troca do outro rapaz que já foi “ídolo” por aqui, um ambiente e um hype extraordinários foram criados no Lakers. Lonzo me passa a sensação de que não sente pressão nenhuma. Ele joga com a aquela cara de peixe morto (Alô, Tim Duncan!), enquanto acaba com a partida, vide Summer League. Não estou comparando ninguém. Não estou dizendo que a próxima Jersey aposentada pós-Kobe será a de Lonzo. Só quero chegar em um ponto muito importante. A torcida precisa de alguém para responder suas expectativas, ou demonstrar que há uma luz no fim do túnel. Lonzo me parece ser esse cara (EU SEI QUE ELE PRATICAMENTE NEM JOGOU). Enfim, o vazio deixado por Bryant deve servir de incentivo, mas também não quer dizer que seja totalmente positivo, as comparações sempre vão ser cruéis e sempre existirão, também não podem servir como desculpas para esconder problemas de desenvolvimento dos jovens, mas para responder a sedenta torcida, existe Lonzo Ball. Chega ao fim a participação do Los Angeles Lakers na Liga de Verão de 2017, e o título conquistado tem mínima importância no andar da carruagem da franquia no ano. Entretanto, assistir os garotos do time excederem as expectativas é sempre ótimo. Ivica Zubac foi um ponto fora da curva, é verdade, mas Kuzma foi estupendo, e Hart e Bryant foram regulares. Ainda, Ingram provou em um jogo que nem deveria estar ali. Contudo, nenhum teve um desempenho minimamente magnífico quanto o de Ball.
Tais palavras podem soar meio arrogantes ou precipitadas na mente de alguns, por razões óbvias. Kuzma teve uma performance louvável, inclusive vencendo prêmio de melhor jogador da Final, mas muito disso tem dedo de Lonzo. Ball produziu incríveis 234 pontos, seja passando a bola ou pontuando por conta própria. Uma média de trinta e nove por jogo, em cerca de trinta e dois minutos em quadra. O segundo colocado, pasmem, originou sete pontos a menos que Lonzo. Já teria sido um grande desempenho se fosse só isso. Mas não foi. Lonzo, em apenas seis jogos, substituiu uma mentalidade longeva no elenco. Não foi raro encontrar entrevistas de jogadores confessando que tentaram passes extras em razão de Ball. Outros admitiram correr um pouco mais nos contra-ataques. Também pudera: 27% do ataque do Lakers no campeonato foi em transição. A título de comparação, o Warriors, líder da NBA no quesito, contabilizou 18%. Evidentemente, os Dubs jogaram muito mais partidas que o Lakers, mas o número não deixa de ser significativo. Por fim, Lonzo atestou na cara de todos os analistas que teimavam em dizer o contrário: ele é especialista em tirar o máximo de todos ao seu redor. Excetuando Zubac, a decepção da torcida, Lonzo fez de Kuzma, vigésima sétima escolha no Draft, potencial titular. De Alex Caruso e Matt Thomas, descartáveis nos dois últimos Drafts, bons role-players. Do time por inteiro, um “Pace” altíssimo, que resultou no melhor ataque da competição: 99.9 pontos por partida em 40 minutos jogados. Um absurdo. Foram apenas seis jogos, fato. Mas diferente da opinião de muitos, nem tudo deve ser jogado fora na Summer League. Por mais que seja difícil admitir, Lonzo foi excepcional e surpreendente num time excepcional e surpreendente. E não importa se foi em torneio de verão, não elogiar Ball é simplesmente colocar a mão em frente aos olhos e dizer que não enxerga. Se ele vai conseguir produzir nesse altíssimo nível na NBA já em sua primeira temporada, ninguém sabe, mas presumivelmente não irá. Apesar disso, tais atuações foram uma injeção de ânimo na veia de uma torcida carente de uma figura tão importante quanto Lonzo Ball. |