Confesso que a ficha ainda não caiu. Sim, essa tecla já foi batida milhares de vezes e dessa vez eu prometo: o foco desse texto não é LeBron, apesar de ser impossível falar do Lakers atual sem citá-lo. A verdade, no fundo mesmo, todos já sabem, mas boa parte dos torcedores de outras franquias não querem aceitar. O Lakers de hoje é MUITO mais que LeBron James.
Já vou ressaltando que não estou desprezando LeBron, muito pelo contrário, seria um pecado menosprezar ou apequenar um talento desse calibre, mas chegou a hora de olhar para o Lakers além da lenda. Ao decorrer deste texto, irei expor alguns motivos, interessantíssimos por sinal, que devem ser observados e analisados nesta temporada, que não passam, pelo menos diretamente, por LeBron James. Luke Walton: O técnico do Lakers, tão criticado por nós e que, confesso, me fez queimar a língua, é uma das principais análises que quero fazer ao longo desta temporada. A evolução de Luke Walton nas últimas temporadas vai muito além de um record com 35 vitórias (sem contar as várias partidas que escaparam por conta da inexperiência do time). A maneira como utilizou os pontos fortes de alguns jogadores e principalmente melhorou, a ainda falha, defesa do Lakers, merece muito destaque. Com Lonzo e LeBron, podemos potencializar ainda mais nossa defesa, que ainda merece muitos cuidados. Acho válido o lembrete de que Lance e Rondo não são ótimos defensores como alguns gostam de levantar e ambos terão consideráveis minutos nesta season. No ataque, torço para ter mais versatilidade com o que tem em mãos. Em algum ponto da temporada, destacamos que Luke não tinha um desenho de jogo definido, faltando até mesmo playbook em alguns momentos. Ao mesmo tempo, notamos belíssimas jogadas desenhadas e que se repetiram durante o ano. Logo após o anúncio da contratação de LeBron James, um texto na ESPN Americana nos mostrou o quão entusiasmado e empolgado Walton está em compartilhar as ideias com King. Não podemos negar que o elenco está muito mais encorpado, estou animado com o que Luke Walton pode extrair dele e por mais que não pareça, confio em seu trabalho. Brandon Ingram: Espero que este tópico não soe como um “Boom or Bust”, mas como já dito em vários textos deste humilde portal: Brandon Ingram tem tudo para ter, NOVAMENTE, a maior evolução e melhor temporada em sua carreira. Tentando deixar de lado o clubismo, Ingram tem tudo para ser uma grande estrela da liga. Porte físico e recursos. Está sendo moldado e confio muito na carreira do menino. Quero ver arremessando mais e principalmente escolhendo melhor de onde esses arremessos serão feitos. Ao que tange seu físico, acredito que você não pode esperar de Ingram um corpo bombado e malhado, mas sim, um jogador que saiba aproveitar as inúmeras maneiras e vantagens que esta envergadura assustadora proporciona. Ainda, peço paciência para a torcida. É um garoto, mas com um futuro brilhante pela frente, que não merece ser escarrado e abandonado por erros completamente entendíveis e cotidianos de um jovem. Precisamos saber reconhecer o tamanho da joia que temos dentro de casa, basta sabermos lapidá-la da melhor maneira. Ingram não é um jogador comum e é mais um fator que faz desse peculiar Lakers, ainda mais que uma grande estrela. Lonzo Ball Lonzo é um futuro DPOY. Acredite quem quiser. Este rapaz defende muito e muito bem. Ao contrário do que muita gente diz, não considero que sua temporada de calouro foi ruim ou decepcionante. Foi dentro do imaginável. E como o que se imagina em toda segunda temporada de um calouro extremamente promissor, espera-se a melhora. Lonzo é um baita defensor, mas pecou principalmente em alguns fundamentos do ataque, como seu tão comentado arremesso. Ainda, sofreu com algumas lesões e passou por uma cirurgia neste verão. Recentemente, recebemos notícias de que ele trabalhou muito o seu corpo e fez alguns (necessários) ajustes no arremesso. Com um QI de basquete diferenciado e um jogo excelente sem a bola, Lonzo dá (contando com a esperada melhora) uma fluidez e dinâmica ainda maior para este time. Ainda, seu backup será Rajon Rondo, um armador polêmico, mas com experiência. Pode ser um desafogo (e espero que não mais que isso) para um time que tinha Ennis no elenco. Com LeBron, Kuzma e Ingram tomando um protagonismo maior que o de Lonzo na equipe, espero que os comentários negativos e desnecessários do pai impactem menos no jogo do garoto, fazendo com que jogue mais solto e sem um piano nas costas. Ninguém nega que Lonzo aspira à grandeza, tornando-se mais um ponto interessante a se analisar nessa temporada que se aproxima. Torço para que o tempo que perdeu por conta da cirurgia não tenha comprometido seu desenvolvimento na offseason. Diretoria É o ponto mais complicado do nosso texto. Particularmente, não confiava (e ainda não confio totalmente) em nossa diretoria. Já expus em nossos textos os motivos, mas alguns pontos merecem ser destacados. Temos o melhor jogador do planeta e ainda mantivemos boa parte dos jovens jogadores. Imaginava que de fato o Lakers conseguiria um time competitivo, mas por um preço altíssimo, pago com sacrifício de jovens promessas. Ponto positivo para a diretoria. Finalmente podemos pensar um pouco maior nesta temporada e consequentemente é possível indagar-se sobre a postura da diretoria quanto a isso. Terão paciência com Walton se o time não engrenar logo no início? Cobrarão de jogadores jovens e em pleno desenvolvimento um rendimento excepcional? Bancarão um projeto e um sistema de franquia mesmo com pressão externa, e talvez até interna? É utópico imaginar que não enfrentaremos turbulências. Todos os times passam. Desta vez temos um elenco encorpado que brigará pelos playoffs. Como a diretoria vai reagir a cada um dessas pedras que podem surgir no caminho? Veremos. Um time campeão começa na cadeira do GM, se guiarmos o mastro para a direção certa (não nos decepcione Maginka!), é questão de tempo para brigarmos pelo título. Luke, Ingram, Lonzo e a diretoria. O Lakers é muito mais que “o time do LeBron”. No fundo todos sabem disso. Agora é com você, preste atenção nestes outros pontos e, com certeza, ficará muito mais interessante acompanhar o Lakers.
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Brandon Ingram não é o jogador mais midiático do elenco do Lakers em 2019. Também não é o segundo. Pasmem, não é o terceiro. Fama não é a melhor amiga do pacato ala do Lakers. Mas, quando perguntados sobre quem tem o maior potencial deles, os fãs raramente gaguejam: Ingram é o homem. Com um corpo esticado e envergadura sublime, espaçamento no ataque e versatilidade na defesa, todos esperam de Ingram uma superestrela. Estando certos ou não, é certo que o jovem terá a melhor oportunidade da carreira este ano.
Por mais que a evolução de um atleta, principalmente no basquete, é uma conta inexata, o comum é ver jogadores tendo a primeira explosão no terceiro ano. E o exemplo está nas lendas: Michael Jordan e Kevin Durant lideraram a NBA em pontos por jogo pela primeira vez em seus terceiros anos; LeBron James passou da marca dos 30 pontos e Kobe Bryant obteve a titularidade nas terceiras temporadas; por fim, Magic Johnson foi o líder em BPM pela primeira vez e Larry Bird passou dos 50% em aproveitamento no ano 3. Sim, não foram os melhores anos deles, mas foi a afirmação de que realmente não eram qualquer um. Dito isso, Ingram terá um cenário propício para melhorar. Mas deixarei o porquê mais para a frente. Antes, precisamos entender aonde o jovem se destaca e decepciona, por que isto ocorre, e em quais aspectos ele pode melhorar. Com isso, resolvi fazer uma análise completa da carreira do jogador – mais especificamente, a sua segunda temporada –, para identificar seus pontos fortes e fracos (no estilo Choque de Cultura, mas sem a qualidade deles). Apertem os cintos. ATAQUE Que Brandon Ingram evoluiu na tábua ofensiva, todos sabem. Ora, o jogador basicamente dobrou a sua média de pontos e aumentou a eficiência em todas as medições encontradas. Sim, piorar o seu ano de novato era complicado, mas dadas as circunstâncias, não decepcionou. Entretanto, alguns detalhes poderiam elevar o ano ainda mais, caso percebidos. O objetivo deste texto é justamente apontar e esmiuçá-los, um por um, e mostrar por que aconteceram e por que deveriam deixar de acontecer. Sem mais delongas: Antes, precisamos saber como Ingram realmente se portou. E como disse, não é intenção perder tempo. Este site mostra exatamente como o atleta se comportou. Aqui está:
Aproximadamente 53% das jogadas de meia-quadra do jovem foram gastadas em Pick and Rolls e Isolations. O problema é que Ingram foi bastante ineficiente em ambas as duas. Em ISO’s, registrou um grotesco PPP de 0.78, melhor que apenas um terço da Liga; em Pick and Rolls, seu PPP de 0.79 o fez melhor que só 45.2% dos jogadores. E aqui o erro não é de Ingram: a comissão técnica do Lakers deveria ter percebido a ineficiência dele como armador, e, pasmem, tê-lo feito jogar como um ala. Afinal, é isso o que ele é, né?
Por fim, observe o tweet abaixo e perceba a aberração que foi Ingram nos quesitos, e o quão bom já é no resto. É inadmissível o péssimo uso, que atrapalha o crescimento tanto do jovem quanto da equipe.
E qual foi o impacto do mal-uso de Brandon na temporada do Lakers? Não há como saber precisamente quantas vitórias o Lakers deixou de ter por causa disso, mas os números não são amigáveis com ele. O Lakers foi 2.9 pontos por 100 posses PIOR ofensivamente com Ingram em quadra, e mesmo quando equalizamos companheiros, adversários, minutos e sorte a coisa ainda fica desagradável. Reunindo todos os resultados em estatísticas de impacto –note, apenas na tábua ofensiva—, os resultados foram esses:
Longe de serem bons, tais dados foram maquiados pelo crescimento em pontos por jogo do jovem, que, infelizmente, ainda é o que as pessoas procuram como medição de qualidade. Apesar de chocantes, esta decepção é explicada e entendida pelo contexto: o Lakers era uma bagunça e Ingram, por incrível que pareça, só tem 21 anos.
“Mas e se utilizado da maneira correta, o que aconteceria?” É difícil prever com precisão, mas seria nítido uma melhora na eficiência e no impacto dele na tábua ofensiva. Aquele mesmo site tem uma ferramenta que propõe um prognóstico da tal mudança, e os resultados seriam animadores:
Entretanto, o erro não é apenas da comissão técnica. Brandon poderia ser mais eficiente se acertasse os lances livres e evitasse mid-ranges, trocando-os por bolas de três pontos. Apesar de ter 47.0% de aproveitamento, mais de 86% dos seus arremessos foram de dois pontos, um sacrilégio para a NBA atual. Na verdade, Ingram diminuiu seus arremessos de perímetro em comparação com o seu ano de novato, mesmo chutando 4.2 bolas por jogo a mais, em média. Recapitulando: um sacrilégio. Para efeito de comparação, esses 86% de arremessos de dois é maior que a porcentagem de DeMar DeRozan, e, pasmem, Joel Embiid (ênfase no Joel e no Embiid). Ainda assim, seria mais aceitável se seus arremessos concentrassem-se perto do aro, o que, a despeito do pré-conceito geral, são os mais eficientes do jogo. Não há nada mais vantajoso no basquete que uma bandeja ou uma enterrada, e é isso que os times devem procurar primeiramente. O problema é que 48.5% dos arremessos de dois pontos de Brandon foram FORA do garrafão. Mesmo assim, este número ainda seria plausível caso Ingram fosse uma aberração como Kevin Durant, o que, ao menos da última vez que vi, ainda não é. Mesmo assim, estes arremessos de média distância ainda seriam engolidos se Ingram os convertesse em uma média parecida com a de Michael Jordan e Kevin Durant. E, como você já deve ter adivinhado, não aconteceu. Dos 221 arremessos tentados, apenas 91 encontraram o aro. Um aproveitamento de 41.2%, que, apesar de não ser ruim, seria tão eficiente quanto trocar estes arremessos todos por bolas de três com 27.4% de aproveitamento. É óbvio que é irreal viver apenas de bolas de três e bandejas. Não é isso que proponho. Mas quando 65.7% dos seus Jump-Shots são de meia-distância e você mal passa dos 40%, há um bom problema aí. Abaixo, a especificação de todos os arremessos que tentaste. Clique aqui caso não consiga enxergar.
E, para ser franco, é difícil explicar tamanha relutância na bola de três. Dos 487 arremessos que tentou profissionalmente, contando o College, Ingram acertou 36.1%. E esse bom número ainda pode aumentar, visto o ponto fora da curva que foi sua temporada de novato. Retirando-a, vemos uma média de 40.3%. Para os preguiçosos, seria o mesmo que 60.5% em Mid-Ranges.
Mas calma, nem tudo é tristeza. É aqui que entra a parte interessante. Essas 1100 palavras lhe provaram que o jovem é péssimo em Picks e ISO’s e tem grande relutância nas bolas de três, certo? A esperança é injetada quando vemos que LeBron James chegou. E James é justamente conhecido por viver de Pick and Rolls e um contra um e tornar alguns jogadores em grandes arremessadores do perímetro. Não havia encaixe melhor que esse para Ingram. James vem para simplesmente retirar o peso nas costas do garoto de fazer o que não sabe e focar no que já é fora de série. Em CPOE, que mede quantos pontos um jogador pontuou a mais ou a menos que um atleta na exata média da Liga se tentasse os mesmos arremessos, Ingram e James registraram resultados opostos. O CPOE de Brandon em Pick and Rolls foi de -16.5. Ou seja: se ele mantivesse a média da NBA em PPP em Picks, teria de 16 e 17 pontos a mais na temporada. Entendeu? O de James, porém, foi de incríveis +104.0. Em Isolation, respectivamente, tivemos -17.7 e +58.6. Traduzindo: se trocássemos LeBron James por um jogador mediano, o Cavaliers faria cerca de 162 pontos a menos via Picks e ISO’s. Agora ficou fácil, né? Já o Lakers teria 34 pontos a mais se o mesmo jogador mediano estivesse no lugar de Ingram. Com tudo isso, chegamos ao fim: Ingram foi utilizado de maneira errada e perpetuou hábitos questionáveis. Com LeBron, direta ou indiretamente, isto mudará. Seria uma surpresa tremenda se Ingram não evoluísse tremendamente na tábua ofensiva esse ano. Está aqui uma de minhas apostas para MIP. DEFESA Prometo que serei mais breve defensivamente, até porque, além de ter menos estatísticas em mãos, ninguém é pago para defender, como diz Jabari Parker. E os, resultados, assim como os ofensivos, são razoáveis, mas com potencial para melhora. Ainda assim, diria que Ingram tem um passo à frente defensivamente, muito por causa de sua envergadura. Não há limites para a sua evolução. Indo direto à ação, o Lakers foi MELHOR com Ingram em quadra na defesa. Mas antes de entrarmos no impacto, vejamos sua defesa individual: Ingram cedeu 0.4 ponto a menos que a média da NBA cederia defendendo as mesmas posses, número respeitável para um segundo-anista. Somando o ano inteiro, o Lakers sofreu 23 pontos a menos simplesmente por ter Brandon Ingram; não é algo que espanta o leitor, mas antes 23 a menos que a mais. Mas o quanto isto impactou o Lakers? É notória a evolução defensiva, ainda mais vendo os números. Entretanto, para falar a real, número nenhum é necessário: quem o acompanhou no último ano percebeu tranquilamente o quão melhor Ingram se portou. Sim, ainda apresenta problemas relacionados à atenção, mas nada que não o impeça de ser um bom defensor. Nos números, aliás, estes são os resultados:
E eu sei que provavelmente você esperava por mais, mas veja bem: ele tem apenas 21 anos, era péssimo um ano atrás e jogou em uma bagunça tática, uma diarreia de erros e más usos. Ainda tem muito potencial para ser polido.
E isso é visto quando retiramos Ingram da equação defensiva. Isso, retiramos. Com Ingram, DRTG (ajustado por sorte) de 108.3; sem ele, 109.1:
Sim, não são melhoras que irão nos fazer correr pelado em um racha na Estrada do Catonho em Jacarepaguá, mas mostram potencial de excelência. Só de ter saído do fundo do poço para a claridade seria motivo de alegria; quando lembrados de que tem apenas 21, dão esperança. Não há como saber se a evolução continuará, mas se continuar...
Por fim, classificaria o Ingram como um defensor acima da média, mesmo em uma bagunça; estrutura física para dominância e marcação de todas as posições, exceto a de pivô; versatilidade importantíssima para o basquete de hoje e falta de atenção como calcanhar de Aquiles. Lembra-se que Walton o fez defender os armadores justamente para prestar atenção na bola e não prejudicar a defesa. Repito: uma de minhas apostas para MIP. CONSIDERAÇÕES FINAIS 1900 palavras depois, o veredito: ainda falta muito, mas Brandon Ingram é uma possível estrela. No ataque, uma melhor utilização e uma escolha mais adequada dos arremessos deve fazê-lo crescer bastante; na defesa, mais atenção e a continuação da melhora pode torna-lo um defensor respeitável. Apesar de ser surrado por críticos e endeusado por fãs, Ingram ainda é só um moleque de 21 anos. Tratem-no como um. Para Ingram, a chance de realmente explodir é agora: com LeBron James, todos os seus defeitos serão possuídos por ele e todas as suas virtudes serão explorados. Deixar para a outra temporada vai de desencontro ao que é pretendido pela diretoria. O céu é o limite para você, garoto. Voe até lá. |