Desde o dia em que foi escolhido como o novo treinador do Lakers, Luke é motivo de discussões: rotações suspeitas, sermões desnecessários, defesa inconsistente... Inúmeras. Mas o que talvez seja o maior dos problemas é o ataque de meia-quadra. Fácil. A grande maioria (para não dizer 100%) pega no pé do técnico pelo seu esquema supostamente inexistente. Ninguém tá feliz com isso. A origem deste artigo é tentar examinar o que Walton põe em prática, o que está certo e o que está errado. Vamos lá.
Antes de tudo, há de se saber por qual motivo Luke adotou tal sistema: no início do Training Camp, Walton admitiu não ter treinado absolutamente nada de meia-quadra, apenas transição e defesa. Isto tudo semanas antes da temporada começar. Era óbvio que daria errado. Pra não passar muita vergonha, o técnico optou pelo esquema Horns, um dos melhores e mais fáceis esquemas do basquete. Aos que não conhecem, o sistema começa desta forma:
Tá vendo um A de cabeça para baixo? Pois bem, Horns também pode ser chamado de A-Set. Sim, nosso estilo primário de jogo é apenas um tapa-buraco. Enfim, este é um dos mais famosos e utilizados esquemas existentes na NBA: todas as equipes, sem exceção, têm ao menos uma jogada de Horns em seu Playbook. Ainda que usar do A-Set seu principal esquema não seja mais tão comum assim, não há o que criticar aqui. O problema é na definição das jogadas.
O objetivo primordial do sistema é ou conseguir cestas fáceis no garrafão ou bolas de três sem marcação na zona morta. De um jeito ou de outro, espaçamento é vital para a fluidez das jogadas. Se o defensor não teme você, ele automaticamente entrará no garrafão pra ajudar os pivôs. E ninguém teme o Lakers. Todos os nossos titulares, sem restrição, chutam abaixo de 37% nas bolas de três. Além disso, é crucial que os jogadores saibam o exato momento (como em toda jogada, claro) de se movimentarem. Tal erro, somado à falta de espaçamento, não traz coisas boas. O resultado? Bom, assista por si mesmo:
Abaixo, outro exemplo de péssima realização da jogada chamada por Walton. Pivôs no cotovelo do garrafão, chutadores abertos na zona morta, armador no centro. Tudo certo, né? Acredite se quiser, a bola nem chegou às mãos de Lopez. Depois de uma parada curta, Walton ordenou aos jogadores que executassem um lance em Horns. A tal jogada nem começou. Eu nem sei o que foi pior: pedir a Clarkson que seja o facilitador, ou ainda colocar o Corey Brewer como o shooter. Meus olhos doeram bastante.
Para piorar as coisas, Walton pensa que chegou a hora de acabar com o tapa-buraco e implantar o real sistema querido por ele, e a cada jogo a equipe usa menos o Horns, empregando cada vez mais 4-out ou até mesmo o 5-out.
O 5-out consiste em utilizar todos os jogadores no perímetro para abrir espaço no garrafão, e usar e abusar dos cuts, conseguindo, em tese, cestas fáceis. Entretanto, esse é um esquema extremamente difícil de ser ensinado, poisos jogadores devem fazer o corte no momento certo, e o jogador com a bola nas mãos precisa ser inteligente e bom o suficiente para passar a bola corretamente. Nas circunstâncias em que se encontra o Lakers, acho um desastre tentar implementar o esquema aqui. Já o 4-out, ou ‘41’, parece ser um fit melhor para o elenco. Diferente da crença popular de que é estritamente necessário quatro chutadores no perímetro e um pivô bom no poste, o ‘41’ se baseia em espaçar muito bem os jogadores do perímetro (de preferência, a uma distância de meio metro cada), tornando impossível que apenas um marcador defenda dois atletas. O 4-out, por isso, é um explorador automático de “mismatches”, e que se bem trabalhado permite bandejas fáceis (ou mesmo chutes de três). Abaixo, um exemplo de como o sistema pode ser trabalhado:
Lonzo fez o papel do pivô e Lopez o do espaçador. Aqui, cai por terra o pensamento rudimentar do 4-Out. Milhares de combinações podem ser feitas neste esquema. Com Lopez na zona morta, seu irmão teve que sair do garrafão, o que abriu espaço para Kuzma, que recebeu a ajuda do corta-luz de Ball, enterrar sem dificuldades. Apenas no 18° jogo vi uma bela jogada desenhada da equipe. Outras podem ter passado despercebidas, mas acho difícil.
Aqui, outro exemplo do quão benéfico o sistema pode ser se for bem trabalhado. Veja o que a distância entre KCP e Kuzma proporcionou: Valentine ficou perdido, não sabendo em quem chegar. Será que se ambos estivessem próximos um do outro o espaço apareceria? Acredito que não. Bom lembrar que mesmo fazendo uma temporada decepcionante e abaixo da média, Lopez chamou o double-team.
Em suma, o nosso Playbook passa por uma vasta mudança neste instante da temporada. Luke, tapando o sol com a peneira, aplicou o Horns enquanto ensinava pitadas de 5-out e ‘41’ ao elenco. Passados quase 20 jogos, entendeu que era o momento de desapegar do primeiro e confiar nos dois últimos. Claro, algumas jogadas de Horns continuarão no Playbook, como jogadas de 4-out estiveram no início do ano. A questão é: qual será o estilo principal, aquele em que o treinador confia para ter uma bola de segurança ou quando o time se perde em um jogo. Ao menos no jogo contra o Bulls deu certo. Agora é esperar pra ver o que o futuro nos reserva.
Comentários
O Lakers dos últimos tempos tem dividido muitas opiniões. Muitas mesmo. Porém, um nome em especial, é com folga, o cara que mais separa os torcedores da franquia. É preciso falar sobre Luke Walton. E farei de tudo para expor os dois lados dos argumentos, contra e a favor do treinador.
A franquia vinha de uma sequência horrível. Dois anos de Mike D’Antoni (ele não era o mesmo treinador de hoje) e dois anos de Byron Scott. Quando Scott foi demitido, o Lakers então marcara uma reunião com Ettore Messina (um dos nomes preferidos para assumir o cargo de treinador) e de uma hora pra outra: BOOOM. Luke Walton anunciado como treinador. Muitos festejaram, alguns esbravejaram e outros só estavam felizes com qualquer coisa não sendo Byron Scott. Walton fez um excelente trabalho no início da temporada passada, mas aí os erros começaram a surgir na atual temporada e no ano passado. Uma teimosia inexplicável nas rotações veio herdada de 2016-2017. Muitas vezes até certa incoerência é capaz de ser notada, onde Luke pede uma meta do time nas entrevistas e declarações, sendo que o próprio não cumpre, como as exigências de liderança para Russell, situação em que o treinador pedia mais atitude e bancava o jogador nos momentos finais. Vale até ressaltar que alguns jornalistas da empresa americana acham que Luke acaba expondo demais os novatos, principalmente Lonzo Ball. Outra crítica válida está relacionada com a pobreza do ataque do Lakers, que parece não ter solução desde que Kobe Bryant rompeu seu ACL. O Lakers é muito previsível e fraco no ataque. Falta uma melhor análise dos jogadores que o Lakers possui. Julius Randle e Brook Lopez são eficientes no pick and roll, e essas duas virtudes precisam ser utilizadas nos jogadores corretos. Brandon Ingram somado a um pick and roll bem feito é quase que sinônimo de cesta. Nos finais dos jogos também fica exposta a inexperiência ou talvez até incompetência do treinador. Isso ficou bem claro no jogo contra Boston, por exemplo, onde o time de Brad Stevens apelou para jogadas de segurança e pontuava enquanto o Lakers abusava de hero ball com Jordan Clarkson ou KCP. Sem contar a teimosia com Brewer e Bogut no segundo quarto. Num aspecto positivo, Luke começou a esboçar um desenvolvimento de uma defesa decente. Subimos muito no rank da liga em comparação com os outros anos. O playbook, ainda que mal utilizado e não muito eficiente, existe. Walton, mesmo muito criticado e questionado, tem um padrão de jogo. Vale ressaltar que o treinador não conseguiu ainda montar um elenco com peças que completem o estilo de jogo que Walton se destacou treinando o Golden State. Analisando friamente, não temos mais que três arremessadores realmente confiáveis. Luke também aparenta ter um bom relacionamento com a diretoria, o que acaba prevenindo polêmicas e fofocas feitas pelos grandes tabloides de LA. Por fim, percebe-se que o Lakers se precipitou mais uma vez ao contratar Walton como treinador. Ainda mais com uma reunião marcada com Ettore Messina. Luke, assim como os jogadores, também pode, e vai, evoluir, mas não se vê nele uma essência para ajudar a guiar essa franquia novamente. Não. Não estou pedindo nenhuma demissão. Mesmo que contraditório e teimoso, Luke evoluiu e enfim o time está esboçando uma cara, um estilo de jogo, um esquema. Se ele será o treinador que fará o Lakers voltar a gloria, provável que não. Mas é fato que o próximo treinador terá um trabalho muito mais fácil que a terra arrasada que Walton encontrou quando chegou.
Depois de apenas doze jogos, o veredito: Lonzo Ball é fraquíssimo. Comentaristas, analistas, especialistas, torcedores... Todos criticando duramente o novato. Não sem razão, claro. Seu início horrendo talvez preocupe os mais desesperados, mas os mais pacientes sabem que tal começo desanimador é algo completamente normal no mundo NBA. A origem deste artigo é para tentar expor o porquê de Lonzo desapontar nestas doze primeiras partidas e acalmar os que já fazem tempestade em copo d’água.
Antes de tudo, deve-se saber qual foi o esquema aplicado em UCLA para que Ball se destacasse de modo tão significativo. E (faça uma cara de espanto mesmo já sabendo) é deveras diferente do que Luke Walton emprega (ou tenta empregar) no Lakers. Abaixo, um gráfico revelando em porcentagem a frequência de jogadas da equipe de Steve Alford. Atente-se apenas ao número de Pick and Roll.
Baixíssimo, não? Somente 12.3% das jogadas de UCLA foram sobre este tipo de jogada. Em Los Angeles, absurdos 27%. É difícil dizer se o Lakers realmente tem um esquema, mas se tiver é péssimo. E não é só isso: Lonzo era “pouco” utilizado neste estilo, mas de forma abissal. Explicar o extremamente complexo estilo de Picks de UCLA é cabível de um texto unicamente para isso, mas acredite no autor: é incrível. Lonzo não fazia este tipo de jogadas com a mesma frequência, mas tinha um aproveitamento absolutamente melhor. Comparar com os simples corta-luzes desenhados por Walton é um crime.
Outra reclamação constante vem da seguinte frase: “Lonzo é um PG puro muito passivo, precisa mudar esse pensamento”. Dois erros: Ball não é passivo e não é um PG puro. Como um armador que tenta doze arremessos por partida é passivo? Lonzo não chega perto de ser isso. Na verdade, o problema está na escolha dos chutes: 44.6% de seus chutes são do perímetro. Nas bolas de dois, de onde vem os 55.4% restantes, Ball tem 40.3% de aproveitamento. Nada mal para um novato, né? Não é o ideal, mas não é pavoroso. Já sobre a questão de ser um armador puro no sentido da palavra, por incrível que pareça ele jamais foi isso. Sabe-se que isso foi vendido pela mídia, mas não é verdade. Em UCLA, ao menos ofensivamente, Lonzo era um SG. Veja no gráfico abaixo:
As jogadas que Ball participou no College tem um grau de similaridade de 80.3% com um armador da NBA, em contraste aos 91.5% de um ala-armador. Ou seja: Lonzo participou do ataque de UCLA como um SG. E assim ele se destacou. No Lakers, sem surpresa, é sem a bola que Lonzo pontua melhor. Observe:
Lonzo só encosta na redonda para definir. Em várias outras jogadas, tanto no College quanto na NBA, pode-se ver jogadas com esse fim: cesta. Transformar-se de basicamente um SG para um PG vai demorar bastante, queira ou não. Qualquer desespero aqui é infundado. Lonzo é um novato que está sendo pedido para produzir em um ataque horrendo, sem jogadas desenhadas e que não explora seu potencial da forma correta. Torcedores, calma. Lonzo vai mal, mas vários já foram. Acontece com qualquer um. Por que não falam de sua defesa incrível, que o põe entre os melhores? Ou de que se encontra entre os dez melhores em potenciais assistências (em que calcula as assistências que o jogador distribuiu além das que deveriam contar se os companheiros fossem qualificados), com 12.7? Contentam-se apenas com arremessos. Mas isso é normal. Com time grande é sempre assim. O Lakers incomoda. Bastante. |